quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Esperança


Há algumas semanas, ao entrar no ônibus e me acomodar em pé escorada em uma das barras verticais, reparei num senhor, sentado no banco a minha frente. Aparentava 50 e poucos anos, era mais baixo do que a média, meio gordinho, usava calça social marrom-claro surrada e camisa com os três primeiros botões abertos. No colo, uma pasta transparente de elástico. Na pasta, um currículo.
Não sei de onde vinha, muito menos para onde ia, mas sei o que queria. Queria se livrar do desespero de não trabalhar. Talvez da vergonha de não pagar a conta de luz. Queria provar para si mesmo e para o mundo que esse negócio de idade pode ser deixado de lado. Que sempre foi útil, e ainda é.
Pensei nos lugares por onde ele pode ter passado pedindo emprego. No neto que deve ter ajudado digitando e imprimindo o currículo. Nos "nãos" que ele pode ter ouvido. Na força de vontade que ele deve vestir junto com a camisa amarelo-desbotada antes de sair de casa. Pensei no meu pai. No desespero que eu sentiria se ele estivesse nessa situação.
Aí eu rezei. Perdi uma lágrima e rezei. Para que a próxima tentativa fosse bem-sucedida. Para que a notícia para a esposa, esperando em casa depois da faxina, fosse a melhor. Para que qualquer desespero cesse. E qualquer esperança permaneça renovada.

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