Há algumas semanas, ao entrar no ônibus e me acomodar em pé
escorada em uma das barras verticais, reparei num senhor, sentado no banco a minha
frente. Aparentava 50 e poucos anos, era mais baixo do que a média, meio gordinho,
usava calça social marrom-claro surrada e camisa com os três primeiros botões
abertos. No colo, uma pasta transparente de elástico. Na pasta, um currículo.
Não sei de onde vinha, muito menos para onde ia, mas sei o
que queria. Queria se livrar do desespero de não trabalhar. Talvez da vergonha
de não pagar a conta de luz. Queria provar para si mesmo e para o mundo que
esse negócio de idade pode ser deixado de lado. Que sempre foi útil, e ainda é.
Pensei nos lugares por onde ele pode ter passado pedindo
emprego. No neto que deve ter ajudado digitando e imprimindo o currículo. Nos
"nãos" que ele pode ter ouvido. Na força de vontade que ele deve
vestir junto com a camisa amarelo-desbotada antes de sair de casa. Pensei no
meu pai. No desespero que eu sentiria se ele estivesse nessa situação.
Aí eu rezei. Perdi uma lágrima e rezei. Para que a próxima
tentativa fosse bem-sucedida. Para que a notícia para a esposa, esperando em
casa depois da faxina, fosse a melhor. Para que qualquer desespero cesse. E
qualquer esperança permaneça renovada.
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