sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Sobre a perecibilidade do que acaba

Tudo que começa, acaba.
Ou não.
Tenho uma boneca com o corpinho de pano e a cabeça de borracha que continua ali, firme e forte há mais de uma década. E provavelmente não se desintegrará tão cedo.
Coisas leves, o vento leva. Coisas moles, a força entorta. Coisas pequenas, o que é grande esconde. Coisas perecíveis, o tempo estraga.
É isso. É o grau de perecibilidade que determina o que estragará com o tempo.
As sobras de um ovo de páscoa esquecido na gaveta inferior da geladeira, uma hora tornar-se-ão intragáveis. Mesmo que o papel que as reveste e o frio do eletrodoméstico tentem preservá-las.
O que é perecível?
Pão, leite, xuxu, sucrilhos, tristeza.
A tristeza pode possuir um maior ou menor grau de perecibilidade, mas que uma hora acaba, isso acaba.
E quanto ao amor?
Às vezes podem haver coisas que, assim como o frio da geladeira e o papel do ovo de páscoa, tentem preservá-lo. Mas a data de validade já estava impressa no rótulo há tempos e, invariavelmente, estraga.
Só que aí, caros amigos, encontra-se uma das mais indigestas peças que o destino prega nos desavisados: se estragou, não era amor.
Paixão, a angústia destrói. Carinho, a indiferença mata. Consideração, o desrespeito extermina. Amor, amor meus caros, só a morte leva.
Amor é como a boneca de corpo de pano e cabeça de borracha: pode até desintegrar-se um dia, mas, quando isso acontecer, sua carne já estará tão deteriorada quanto.