O que eu temia aconteceu. Precisei comprar uma moto. E faço
questão de justificar o uso do termo "precisar".
Há alguns meses eu vendi meu carro (por dezenas de motivos
que não vêm ao caso agora) e voltei a andar de ônibus. Sem problema acordar uma
hora antes do que poderia acordar se tivesse um carro. Sem problema ter que
andar 7 quadras até o ponto de ônibus. Sem problema MESMO, não é ironia. Sei
que tem gente que leva 3 horas para atravessar a cidade e chegar ao trabalho.
Tem gente que percorre mais que 7 quadras numa cadeira de rodas. Enfim, nada
disso chegou perto de me incomodar.
O problema começou quando eu fui analisar as linhas que eu
teria que pegar para ir de casa à faculdade e da faculdade ao trabalho, seus
horários e itinerários. Eu moro a pouco mais de 4 quilômetros do meu trabalho e
tenho que fazer um trajeto de quase 12, pegando três ônibus.
Mas o pior é chegar na faculdade. A bendita Uniderp
Agrárias.
Eu demoro aproximadamente 90 minutos para fazer o trajeto,
sendo que 30 deles eu passo sentada no terminal esperando. Passa UM ônibus a
cada hora. Pensa na lotação. E nem pense em perder o bendito.
Aí saio da faculdade e pego a mesma linha às 11h50. Com um
pouco de papo e mais um pouco de drama consigo fazer o motorista me deixar no
meio do caminho entre 2 pontos (assim evito duas quadras de subida íngreme).
Mesmo assim preciso caminhar cerca de 6 quarteirões (debaixo do sol delícia do
meio-dia) para chegar até a casa do namorado, onde minha sogra querida (de
verdade) cede almoço para esta pobre criatura que vos escreve.
Chego botando os bofes pra fora, naturalmente, suando feito
uma condenada com a mochila nas costas e ciente de que ainda tenho que
enfrentar o turno da tarde sem banho e sem trocar de roupa. Detalhe: não posso
estar com "qualquer" roupa porque trabalho numa associação de
Promotores de Justiça.
Depois de almoçar e recobrar as forças, alguém me deixa no
trabalho. Namorado, sogra, cunhada, alguém sempre me dá essa forcinha. A casa
deles é perto da associação, cerca de 2 quilômetros. MAS se, por algum motivo,
eu precisar vir direto da faculdade para o trabalho, a única alternativa é ir
até o terminal (mais uns 8 km) para pegar outra linha que chega até aqui. E aí
se foi minha horinha de almoço passeando por aí.
Enfim, não dava. Eu lido bem com o fato de ter que caminhar.
Mas não lido bem com sol, gente. Não dá. Já disse alguém por aí que o melhor do
sol é a sombra. Sol é uma desgraça. Sol escaldante, então, beira o suicídio.
Daí que comprei uma motinha. Uma Neo, da Yamaha. Para passar
menos tempo com o sol direto na cachola e depender menos da boa vontade e da
carona das outras pessoas. Mesmo depois de ter escrito dezenas de matérias
sobre pessoas que morreram ou ficaram aleijadas depois de um tombo de moto.
Mesmo sabendo que o trânsito de Campo Grande tá virado num pandemônio, digno de
pesquisa social e antropológica sobre o comportamento de humanos-mulas à
direção.
Tenho que agradecer essa minha falta de alternativa ao poder
público municipal, que não quer/tenta/consegue oferecer um transporte público
eficiente para a população. Sério mesmo, JAMAIS teria comprado uma moto a) se
tivesse como manter um carro e b) se o transporte coletivo fosse minimamente
eficiente e me deixasse chegar nos lugares na hora certa sem suar em bicas.
Que o meu anjinho da guarda sente na minha garupa.
Olha a lambreta aí. |