terça-feira, 2 de outubro de 2012

Afinal, quem é você na fila do pão?

Trecho de uma palestra do filósofo Mário Sérgio Cortella. Quando alguém perguntar "você sabe com quem está falando?", conte essa pequena história.
"O que é a Terra? A Terra é um planetinha que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre outras 100 bilhões de estrelas, compondo uma única galáxia, entre outras 200 BILHÕES de galáxias, num dos universos possíveis e que está desaparecendo. A espécie humana é uma entre as 3 MILHÕES de espécies conhecidas pela ciência na Terra. Somos UMA ESPÉCIE que vive em um planetinha, que gira em torno de uma entre 100 bilhões de estrelinhas, compondo uma única galáxia, entre 200 bilhões de galáxias, num dos universos possíveis e que está desaparecendo.
Você é UM entre 7 BILHÕES de indivíduos da espécie humana na Terra. UM indivíduo, de UMA entre 3 MILHÕES de espécies conhecidas de um planetinha, que gira em torno de uma entre 100 bilhões de estrelinhas, compondo uma única galáxia, entre 200 bilhões de galáxias, num dos universos possíveis e que está desaparecendo. Veja só como nós somos 'importantes'.
E tem gente que acha que Deus fez tudo isso só para ESSE planetinha existir. Pior ainda: tem gente que acha que Deus fez tudo isso SÓ PARA ELA PRÓPRIA existir.
Quem é você? Quem sou eu? Quem sou eu para achar que o único modo de fazer as coisas é como EU faço? Quem sou eu para achar que a única cor de pele adequada é a que EU tenho? Quem sou eu para achar que o único lugar bom para nascer é onde eu nasci? Quem sou eu para achar que o sotaque correto é o que eu uso? Quem sou eu para achar que a única religião certa é a que eu pratico? Quem sou eu? Quem és tu?"

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

E lá vamos nós. De duas rodas.

O que eu temia aconteceu. Precisei comprar uma moto. E faço questão de justificar o uso do termo "precisar".
Há alguns meses eu vendi meu carro (por dezenas de motivos que não vêm ao caso agora) e voltei a andar de ônibus. Sem problema acordar uma hora antes do que poderia acordar se tivesse um carro. Sem problema ter que andar 7 quadras até o ponto de ônibus. Sem problema MESMO, não é ironia. Sei que tem gente que leva 3 horas para atravessar a cidade e chegar ao trabalho. Tem gente que percorre mais que 7 quadras numa cadeira de rodas. Enfim, nada disso chegou perto de me incomodar.
O problema começou quando eu fui analisar as linhas que eu teria que pegar para ir de casa à faculdade e da faculdade ao trabalho, seus horários e itinerários. Eu moro a pouco mais de 4 quilômetros do meu trabalho e tenho que fazer um trajeto de quase 12, pegando três ônibus.
Mas o pior é chegar na faculdade. A bendita Uniderp Agrárias.
Eu demoro aproximadamente 90 minutos para fazer o trajeto, sendo que 30 deles eu passo sentada no terminal esperando. Passa UM ônibus a cada hora. Pensa na lotação. E nem pense em perder o bendito.
Aí saio da faculdade e pego a mesma linha às 11h50. Com um pouco de papo e mais um pouco de drama consigo fazer o motorista me deixar no meio do caminho entre 2 pontos (assim evito duas quadras de subida íngreme). Mesmo assim preciso caminhar cerca de 6 quarteirões (debaixo do sol delícia do meio-dia) para chegar até a casa do namorado, onde minha sogra querida (de verdade) cede almoço para esta pobre criatura que vos escreve.
Chego botando os bofes pra fora, naturalmente, suando feito uma condenada com a mochila nas costas e ciente de que ainda tenho que enfrentar o turno da tarde sem banho e sem trocar de roupa. Detalhe: não posso estar com "qualquer" roupa porque trabalho numa associação de Promotores de Justiça.
Depois de almoçar e recobrar as forças, alguém me deixa no trabalho. Namorado, sogra, cunhada, alguém sempre me dá essa forcinha. A casa deles é perto da associação, cerca de 2 quilômetros. MAS se, por algum motivo, eu precisar vir direto da faculdade para o trabalho, a única alternativa é ir até o terminal (mais uns 8 km) para pegar outra linha que chega até aqui. E aí se foi minha horinha de almoço passeando por aí.
Enfim, não dava. Eu lido bem com o fato de ter que caminhar. Mas não lido bem com sol, gente. Não dá. Já disse alguém por aí que o melhor do sol é a sombra. Sol é uma desgraça. Sol escaldante, então, beira o suicídio.
Daí que comprei uma motinha. Uma Neo, da Yamaha. Para passar menos tempo com o sol direto na cachola e depender menos da boa vontade e da carona das outras pessoas. Mesmo depois de ter escrito dezenas de matérias sobre pessoas que morreram ou ficaram aleijadas depois de um tombo de moto. Mesmo sabendo que o trânsito de Campo Grande tá virado num pandemônio, digno de pesquisa social e antropológica sobre o comportamento de humanos-mulas à direção.
Tenho que agradecer essa minha falta de alternativa ao poder público municipal, que não quer/tenta/consegue oferecer um transporte público eficiente para a população. Sério mesmo, JAMAIS teria comprado uma moto a) se tivesse como manter um carro e b) se o transporte coletivo fosse minimamente eficiente e me deixasse chegar nos lugares na hora certa sem suar em bicas.
Que o meu anjinho da guarda sente na minha garupa.


Olha a lambreta aí.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Esperança


Há algumas semanas, ao entrar no ônibus e me acomodar em pé escorada em uma das barras verticais, reparei num senhor, sentado no banco a minha frente. Aparentava 50 e poucos anos, era mais baixo do que a média, meio gordinho, usava calça social marrom-claro surrada e camisa com os três primeiros botões abertos. No colo, uma pasta transparente de elástico. Na pasta, um currículo.
Não sei de onde vinha, muito menos para onde ia, mas sei o que queria. Queria se livrar do desespero de não trabalhar. Talvez da vergonha de não pagar a conta de luz. Queria provar para si mesmo e para o mundo que esse negócio de idade pode ser deixado de lado. Que sempre foi útil, e ainda é.
Pensei nos lugares por onde ele pode ter passado pedindo emprego. No neto que deve ter ajudado digitando e imprimindo o currículo. Nos "nãos" que ele pode ter ouvido. Na força de vontade que ele deve vestir junto com a camisa amarelo-desbotada antes de sair de casa. Pensei no meu pai. No desespero que eu sentiria se ele estivesse nessa situação.
Aí eu rezei. Perdi uma lágrima e rezei. Para que a próxima tentativa fosse bem-sucedida. Para que a notícia para a esposa, esperando em casa depois da faxina, fosse a melhor. Para que qualquer desespero cesse. E qualquer esperança permaneça renovada.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Faz tempo

Faz tempo que não consigo parar e olhar a lua como ela merece.
Faz tempo que essa bola de chumbo fervente não desiste do meu estômago.
Faz tempo que eu me pergunto se vale mesmo a pena.
Faz tempo que os suspiros tornaram-se companheiros constantes.
Faz tempo que a fé é o único calço que garante a verticalidade.
Faz tempo que a saudade insiste em usar nariz de palhaço.
Faz tempo que as interrogações fazem-se maiores que as exclamações.
Faz tempo que as vontades, de tão relegadas, são esquecidas. 
Faz tempo que eu quero que o tempo passe.
Faz tempo que o simples tornou-se raro.
E o raro tornou-se recorrente.
E o sombrio tornou-se companhia.
E a companhia tornou-se precisa.
Precisa e necessária.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Coisas que aprendi no Pantanal

- o sol de lá é MUITO mais forte que o de cá;
- 465 metros de subida não são 4 lances de escada;
- ainda existem crianças que obedecem quando a mãe diz "sai daí";
- união e trabalho em grupo são importantes até onde são necessários 30 minutos de barco para chegar ao vizinho mais próximo;
- tem gente que vive com tão pouco, mas tão pouco, que se você soubesse quanto, NUNCA MAIS reclamaria que só tem omelete pro jantar;
- banho quente, água limpa e a cama da gente são luxos pelos quais você deveria agradecer todo santo dia;
- mosquitos picam por cima das calças;
- quem a gente vê como "mocinho" pode ser, muitas vezes, o bandido;
e, finalmente,
- uma mente que se abre a novos ensinamentos, nunca, nunca, nunca, volta ao tamanho original.