sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Fato verídico

Pequeno resumo de como anda minha vida nesse momento.
- Mãe, queria um namorado...
- Tá, e o que você vai deixar de fazer pra namorar: dormir, comer ou trabalhar?
- É... não dá, né?
- Né.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Não deixe entortar

Gostaria de dividir uma experiência com vocês. Aliás, experiência não. Dividir um aprendizado, um “conceito” que ouvi hoje, da boca de um juiz da Vara da Infância e Juventude, sobre a recuperação de jovens que cometeram algum crime.
Fui fazer uma matéria em uma Unidade Educacional de Internação (Unei). Para quem não sabe, trata-se de uma “cadeia” para menores infratores, ou “adolescentes em desconformidade com a lei”, como prefere caracterizar o juiz. Para não ser chata e escrever demais, vou contar os detalhes que me chamaram atenção, em tópicos. Ler em tópicos é mais legal porque a gente vai pulando o que não interessa.
- Por ser uma unidade especial, onde só permanecem os adolescentes de bom comportamento, o cenário não lembrava nem de longe uma cadeia, a não ser pelas grades nas portas.
- Ao entrar, você fica de frente para um saguão, protegido pelas tais grades. O juiz avisou para os jovens que íamos entrar no saguão, eles dirigiram-se para os alojamentos (celas) e fecharam as portas que os separam do saguão. Assim, sem precisar orientá-los ou conduzi-los.
- Enquanto conversávamos no saguão, todos os 27 rapazes observavam agarrados às grades. Foi a primeira vez que tive uma sensação estranha, de estar sendo cuidadosamente observada em um ambiente que, definitivamente, não era o meu.
- O juiz quis mostrar um dos alojamentos. Avisou os jovens, eles se dirigiram para o fundo do quarto, e nós entramos. Não ouvi em momento nenhum a voz de algum dos rapazes. E a sensação de ser observada aumentou significativamente.
- Saímos e fomos para a diretoria. Por mais de uma hora o Diretor da Unei contou histórias e experiências vividas em 8 anos de socioeducação. Acompanhados do juiz da Vara da Infância e Juventude, conversamos sobre os motivos que fazem aquela Unidade ser diferente de tantas outras; diferente do que foi a Febem; diferente do que é a Unei Dom Bosco aqui em Campo Grande.
- Conversei com Pedro Henrique, um rapaz de 18 anos que matou um homem com um tiro há mais ou menos 7 meses. Ele está prestes a sair da Unei, diz que quer estudar, que já tem um emprego garantido e que nem pensa em fazer “cagada” de novo.
- O juiz contou que Pedro Henrique é “formador de opinião positiva” dentro da Unidade. Sempre que um outro jovem quer “desandar”, ele o faz desistir da ideia.
- Era aqui que eu queria chegar. Conversando sobre a reeducação e a re-socialização desses jovens, o juiz utilizou uma metáfora interessante. Ele disse que, quando afiamos uma faca, chega um momento em que a lâmina está perfeita, fina e afiada. Se continuarmos a afiar, a lâmina vai entortar. É assim com os jovens que aceitam a reeducação: eles atingem um “pico”, como no caso de Pedro Henrique. Se eles são mantidos por mais tempo atrás das grades, eles podem “entortar”.
Quanta coisa na vida da gente é assim? Quem dera saber exatamente a hora de parar de afiar; a hora de soltar o que está preso, para não entortar.